segunda-feira, 17 de maio de 2010

o choque do chocolate amargo

por estes dias tenho andado muito chocada.
vi um programa, salvo erro, toda a verdade ou panorama BBC, que me tocou imenso.
segundo a investigação nele apresentada, é de conhecimento geral, menos meu até sábado passado, que há, de facto, escravatura infantil na apanha do fruto de cacau.
ao que parece, os governos sabem, as chocolateiras sabem, a europa sabe, os estados unidos sabem, muita gente influente sabe!
parece também que foi em 2000/2001, se não me falha a memória, que dois individuos levaram ao senado americano um projecto lei que quase esteve para ser aprovado, que iría, pelo menos, chamar MUITO, a atenção da opinião publica para o caso.
esteve, mas não foi! e porquê?
porque as chocolateiras (tendo sido destacadas a Cadburies, a Nestle, a Mars) se comprometeram a resolver a situação, insistindo para que se criassem associações de comércio justo, onde tal prática não fosse admitida... e segundo o reporter e os entrevistados, a pressão foi mais que muita. acredito que sim.
vai daí toca que investigar o assunto.
a equipa de jornalistas deitou-se ao caminho e fizeram-se passar por reprentantes de uma marca europeia de chocolates (fictícia) interessada na compra de uma tonelada de cacau.
e ali ficou tudo preto no branco!
1º produtor mundial de cacau: Costa do Marfim
2º produtor mundial de cacau: Gana
pais muito muito pobre (se não o mais pobre): Burquina Faso
e o esquema descrito é mais ou menos este: raptam-se, compram-se crianças no Burquina Faso (algumas com 8, sim oito, anos) põe-se-lhes uma catana na mão (algumas catanas representam mais de metade da altura da criança, para se ter uma ideia), e toca de ir apanhar cacau desde as 6 da manhã até às 16/18 da tarde. e esta actividade inclui andar com aquela arma no meio da vegetação, subir ao cacaueiros e catanar os frutos...
e a equipa de jornalistas comprou a tonelada de cacau vinda destas produções. e sem qualquer problema colocou o produto em circulação vendendo o mesmo a quem tinham acreditação para o vender junto dos grandes clientes, Cadburies, Nestle e Mars incluidas.
mas eles fizeram mais. retiraram à tonelada uns quantos quilos. produziram chocolates e colocaram um selo identificador de que aquele chocolate tinha sido produzido com recurso a mão de obra escrava infantil.
ninguem comprou.
mas isto não se fica por aqui.
falaram também com os gestores do Comércio Justo (CJ), e foram às plantações que pertenciam a esse tipo de associações... e o resultado é pouco animador. pela CJ só tinha sido apanhada uma plantação a 'prevaricar' e foi 'posta de castigo' não podendo escoar o seu produto por empregar mão de obra escrava infantil... mas a realidade era bem diferente. só numa nas associações cerca de 12 plantações recorriam a mão de obra escrava infantil. o que põe tudo em causa. (parece que o caso do Gana era bem melhor que o da Costa do Marfim).
entretanto, os individuos que levaram ao senado americano o projecto lei que quase esteve para ser aprovado em 2000/2001, estavam mais que arrependidos de teream cedido, uma vez que, na realidade, desde essa altura que muito pouco se alterou.
conseguiram, os jornalistas, juntar uma mãe e um filho que foi vendido pelo tio enquanto esta estava a trabalhar. o menino do Burquina estava no Gana e os jornalistas tiveram de pagar a gasolina à policia para irem recolher a criança à plantação.

já andei a ver os rotulos de chocolate para ver se há alguma referencia ao Comércio Justo, isto porque mesmo assim, e apesar de tudo, este chocolate será menos injusto... mas pelo que vi, os nossos rotulos nada indicam... parece que o KitKat lá fora (não sei se só na américa) tem essa referência...

e a reportagem acabou, na minha opinião, com A questão: quanto estaríamos dispostos a pagar a mais por tablete de chocolate, para acabar, de facto, com este flagelo?
que amargo se tornou o chocolate...

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