quarta-feira, 20 de maio de 2009

o objecto


faz-se, esquece-se. onde foi mesmo que deixei aquilo que pari à seis anos?
não há problema, foi em portugal, vamos lá buscar o que por lá ficou.

(e ainda que hajam diferenças entre famílias de acolhimento e famílias adoptivas, será que é assim que se fazem as transferencias de objectos?)

agora que a tua mãe já te quer, vais para milhares de quilometros do que conheces, do que amas, dos que amas. e não, não vais de férias, vais e pronto. ah, não falas a língua, ah, não conheces a mãezinha, ah não tens lá os amigos e a escola e esses estupores horríveis que te cuidaram durante estes anos?! não faz mal, ela é a tua mãezinha que te ama acima de tudo e como te ama acima de tudo e te quer, assiste assim à tua 'transferência'. é assim. porque sim. porque a AUTORIDADE diz que sim.

e porque não embalar-te numa qualquer caixa e mandar-te para que te desembrulassem lá?! era mais prático, afinal és um objecto. como podes ver, a transferência foi simpática.

é assim a fantochada legalista. é assim o superior interesse do object (perdão) da criança.

2 comentários:

Dylan disse...

"Descrédito na justiça"

É impossível ficar indiferente aos gritos e choro desesperados da menina de Barcelos que estava numa família de acolhimento aquando da sua entrega à mãe biológica de nacionalidade russa. Este desenlace é tão ridículo que nem acredito na possibilidade das autoridades russas terem imaginado este dramático e insólito final.
Seis anos de cumplicidades afectivas enviadas para a reciclagem sem ninguém ter perguntado à criança qual seria a sua vontade e as possíveis sequelas daí decorrentes. Mais importante do que analisar a legalidade jurídica do acto é verificar o constante descrédito que a justiça portuguesa está votada: brilhantes mentes que têm a certeza que a mãe biológica não repetirá os maus tratos e conduta dúbia, num país e família desconhecidas para a criança, de parcos recursos económicos onde não se fala português. Às vezes não dá vontade de implodir todo o sistema judicial português e pedir a anexação a outro Estado?
http://dylans.blogs.sapo.pt/

Melancia disse...

Dylan:
concordo consigo, é de facto o descrédito das instiuições.
ainda e mesmo sabendo que há diferenças entre famílias de acolhimento e de adoptção, não se pode ficar indiferente a que estes processo de transferência de tutela de uma criança se façam desta forma.